Pegava a ficha, eu sentava na cadeira, balançando os pezinhos que ainda não alcançavam o chão, acho até que foi aí que aprendi a esperar. Minha mãe fazia amizades com outras mulheres que também acompanhavam suas crianças, enquanto eu ficava quieta, sem me queixar do incômodo da dor nem da impaciência de minha mãe.
o médico chamava meu nome, minha mãe me puxava pelo braço e entrava junto. "Doutor, ela tá sentindo dor de garganta, tosse e teve febre a noite toda." Era esquisito ver o monólogo da minha mãe sobre coisas que eu estava sentindo. Quando o médico queria saber mais, eu esboçava uma resposta, mas minha mãe tomava a frente e eu me sentia aliviada por não tem que fazer nenhum esforço.
Apesar de tudo era bom ficar doente. As atenções se voltavam pra mim. E e eu podia comer biscoito a qualquer hora junto com algum suco industrializado, podia assistir desenho animado a manhã toda e ganhava atenção quando era hora de tomar o remédio.
Quando eu cresci, adoeci mais uma vez, só que minha mãe não estava para me levar ao posto de saúde e falar tudo por mim. Talvez a parte mais dolorosa de crescer seja essa: tomar sua própria voz!!!Quando ficamos mais velhos tudo que queremos é nos calar, calar nossas dores,varrer nossos incômodos, sarar nossas feridas e que alguém resolva tudo por nós.
Aline Lima
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