Intensa

 Sempre admirei a intensidade. IN.TEn.Si.DA.DE. Eu não tinha noção do que essa palavra significava. E quando você aprende a ler ainda não consegue entender direito o significado das palavras, isso só vem com os anos. Se eu não era bonita nem suficiente pra Marcelo, nem pra Lucas, nem pro João, talvez fosse pra você. De uma hora pra outra minhas histórias de amor eram só enganação.

Ainda lembro de quando você se despediu, não me olhou direito porque com os olhos é que se ignora, mas agradeceu porque eu sempre estive aberta e me entreguei com a mesma intensidade que das outras vezes. Achei que era elogio, no fim era apenas mais um sintoma. Percebi que faltava alguma coisa nessa minha casa revirada, bagunçada e saqueada por você. 

Pensei por muito tempo o que faria. Amaldiçoei minha mãe, gritei comigo mesma, expurguei toda a dor. Quis matar toda a intensidade em mim, mas a verdade menos açucarada é a de que faltava cor, faltava vida, faltava eu mesma. Olhei pro cantinho que tinha em casa, coloquei mais terra, colhi umas flores pela vizinhança e plantei meu jardim. Cada flor tem um pedaço meu que morreu e renasceu; cada folha podada um lado desconhecido, retirado, moldado, arrancado, recuperado; cada folha que cai uma expectativa tolhida.

Fiquei sentada no chão ao lado do jardim. Eu quis logo chorar pra gastar a raiva. Eu odeio o que tenho de mais bonito. Talvez esteja condenada a viver sozinha com minhas flores, mas já não falta mais a mim e é nesse instante que reconheço quem sou.

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